Tem release que faz mal para a saúde. Não é o seu, não é mesmo?

 

      Quem trabalha no mercado de assessoria de imprensa, sabe o que significa release. É um termo importado, mas já usual em todo o mundo e também por aqui, e que significa informação, texto, comunicado encaminhado aos meios de comunicação no sentido de estimular pautas (favoráveis, é claro) sobre empresas, organizações, governos e mesmo pessoas (artistas, profissionais liberais, políticos, esportistas e celebridades em geral).
      Todo veículo que se preza recebe releases, muitos releases, cada vez mais releases. Evidentemente, quando maior for a força dos veículos e mais interesse tiverem as agências e assessorias em vê-los “comprando” as suas sugestões de pauta, mais eles receberão releases. Muitos jornalistas que trabalham nas grandes redações costumam achar insuportável esse assédio, embora, hoje em dia, pelo enxugamento das estruturas e o reduzido espírito crítico e falta de compromisso público de boa parte delas, se possa imaginar que não iriam pras bancas ou para o ar, se não fosse esse material que lhes chega gratuitamente (?).
      As agências de comunicação e assessorias de imprensa estão cada vez mais competentes e têm até recrutado excelentes profissionais dos veículos para coordenarem este trabalho (importantíssimo) de relacionamento com a mídia. Não deve haver preconceito contra esta atividade porque ela faz parte do mundo da informação e pode, quando executada com profissionalismo, ética e inteligência, contribuir bastante para o debate, a economia e a sociedade.
      Mas há abusos, sempre há abusos e nós aqui, do ComunicaSaúde, somos testemunhas disso. Por uma razão muito simples: falta inteligência a muita gente (amadora, na verdade) que está no mercado e que encaminha material (qualquer material) para os veículos, sem ao menos se dar conta das particularidades da sua linha editorial. Seria óbvio esperar que as agências e assessorias conhecessem os veículos aos quais destinam seus releases, mas isso não é absolutamente a verdade. Por isso, temos recebido material falando de produtos (alguma vez já publicamos notícia de produtos aqui?) ou mesmo apresentando soluções mágicas de cura (a gente não acredita em soluções mágicas e tem horror ao charlatanismo).
      Os colegas deveriam já ter percebido que o ComunicaSaúde não foi criado para fazer o jogo da chamada indústria da saúde. Pelo contrário, temos restrições enormes à sua atuação e estamos comprometidos com outra coisa. Não aceitamos propaganda, não comercializamos o nosso espaço e nem a nossa independência. Esforçamo-nos sempre para separar o joio do trigo e, embora o pessoal da redação também tome remédios (afinal de contas, radicalismo tem limites), não os divulgamos jamais. Existem espaços apropriados para isso e a indústria da saúde sabe bem onde eles estão. Gastam bilhões em propaganda e marketing no mundo todo e são pródigas em campanhas enganosas na televisão (a Anvisa monitora a propaganda de medicamentos e tem dados contundentes sobre as infrações).
      Portanto, um favorzinho só: se pretendem divulgar medicamentos, terapias revolucionárias, esqueçam da gente porque dispomos hoje de fontes (felizmente, há muitas hoje) confiáveis. Pensem bem: a gente até pode, como costumamos fazer nesses casos, utilizar esse material com objetivo diferente daquele que vocês pretendiam e os clientes, certamente, não gostarão nadinho disso. Vocês sabem, eles só gostam de notícias favoráveis. O efeito colateral de um release encaminhado para o lugar errado é terrível.
      Não procuramos clientes nessa área (só fazemos trabalhos quando julgamos que não ferem a nossa independência e não é para qualquer empresa também!) e, portanto, esse assédio não funciona com a gente.
      Poupe-nos deste material inadequado para nós (sabemos, ele pode ser útil para outros veículos, a gente reconhece) e nós pouparemos os seus clientes de comentários desagradáveis que poderão advir desse relacionamento mal feito.
      Respeitamos as agências de propaganda e as assessorias de imprensa, porque afinal estamos também no mercado e reconhecemos o papel fundamental daquelas que adotam a inteligência em seu trabalho (e já são muitas , temos convicção disso).
      A nossa referência são agências de notícias confiáveis, como a Notisa, a Fapesp, a Fiocruz, a Unifesp e não propagandistas de remédios.
      Mais uma coisa: não gostamos da prática do “follow up” para perguntar se vamos publicar a notícia ou não. Se a gente achar que vale a pena, tomamos a iniciativa. Como diz o presidente, deixa a gente trabalhar.
      Produtos não, medicamentos não. Respeitem a nossa linha editorial. Quem tem respeito, merecerá respeito.
      Release sem inteligência, assessoria sem estratégia de relacionamento fazem um mal terrível. Os bons releases, em compensação, são um colírio para os olhos e ajudam a reduzir o nível de colesterol e as enxaquecas diárias. Se você costuma produzi-los, pode encaminhar pra gente: a porta continua aberta.

 
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