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A
ética na pesquisa em saúde coletiva
Yara Coelho*
O
pesquisador deve estar atento ao significado de sua pesquisa perante
a sociedade; qualquer metodologia utilizada interfere direta ou
indiretamente na vida humana, atenção e crítica
são elementos que devem constar em todas as etapas, independente
de critérios estabelecidos.
A
base ética é a honestidade e o respeito que todo
pesquisador deve utilizar. Pesquisas experimentais com seres humanos
não devem ser feitas. O relacionamento de confiança
entre o pesquisador e o sujeito não pode violar o princípio
ético; criteriosamente, a pesquisa deve cumprir sua finalidade,
a devolutiva à sociedade, verificando-se os riscos e benefícios
da mesma.
Ciência
e consciência integram-se no projeto comunicativo de maneira
única, de forma que os conhecimentos adquiridos pelos cientistas
ou pesquisadores na área de saúde coletiva têm
o pressuposto de transmissão, nada deve ou pode impedir
o avanço da comunicação entre os pares ou
a sociedade; é essencial que os avanços sejam públicos,
transmitidos entre elementos das mesmas áreas e de forma
útil para a saúde pública. Conciliar teorias
de um saber e não interromper a cadeia de desenvolvimento
científico em saúde coletiva é não
deixar os ruídos comunicacionais interferirem nas mensagens
entre pesquisadores e sujeitos.
Porém,
quem é o sujeito da ciência?
A
ciência procura um sujeito idealizado, identificado com
a sociedade, coletivo, sem diferenças e produz um entrelaçamento
de produções pessoais com estilos próprios,
que dão origem a seqüências de artigos simplificados
e a transmissão social dos conhecimentos é contínua.
O
sujeito da pesquisa em saúde coletiva deve ser procurado
de forma a satisfazer as necessidades do pesquisador, entretanto,
o mesmo precisa reconhecer que os questionários não
podem levar ao sofrimento, por exemplo, nos casos de aborto ocorrido
com adolescentes, ser criterioso com o ato de pesquisa, não
deve haver humilhação, constrangimento, ignorar
o sujeito de pesquisa e deixá-lo à mercê de
seus sofrimentos ocasionados pelas questões que o pesquisador
trouxe à tona. Existe o TCLE - Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido - que uma vez assinado, dá ao pesquisador
o direito de fazer sua pesquisa. O relacionamento entre pesquisador-sujeito
tem o sigilo como objeto principal. Abortos são crimes.
Como ficam os adolescentes com relação ao tema?
O TCLE dará ao sujeito o retorno que ele necessita e, caso
menor de idade, o termo de consentimento livre e esclarecido é
dado por quem? Pelos pais? Pelos responsáveis de instituições
em que os menores estejam internos? Muitos dilemas éticos
aparecem no decorrer de uma pesquisa e os comitês de ética
devem estar preparados para solucionar e dar os pareceres de modo
correto.Se a pesquisa é válida perante a ética
e a sociedade, então, deve-se prosseguir. Em primeiro lugar
está o sujeito, elemento respeitado e primordial para resolver
questões em saúde pública, não pode
ser considerado parte de populações descartáveis.
A
professora doutora Bader Burihan Sawaia acha que a resolução
196/96 do Conselho Nacional de Saúde é a oportunidade
para discussões das pesquisas. Na publicação
da CONEP - Comuissão Nacional de Ética em Pesquisa
- Ano III - nº 4 - abril de 2000, p.14-17, Bader afirma:
"Vivemos um momento histórico de transformação
do paradigma científico, que questiona o postulado de que
o rigor científico por si só é ético
por ser neutro, tanto que a Bioética virou disciplina e
a ética, item importante de avaliação de
pesquisas não só nas ciências biológicas,
mas nas ciências humanas, exatas e na física. À
medida que o mito da neutralidade científica é questionado,
reaviva-se o debate saudável sobre a relação
entre ciência e virtude. Aos critérios clássicos
de avaliação de uma pesquisa, ao referencial teórico-metodológico,
à definição dos objetivos, à coerência
interna e ao procedimento, somam-se os pressupostos éticos
e políticos que estão inscritos nos anteriores e
nos motivos que levaram o pesquisador a definir determinado objetivo,
a escolher determinados sujeitos para a sua pesquisa".
Com
relação às dificuldades nos experimentos
com seres humanos, Bader Sawaia reafirma que todas as pesquisas
têm implicações éticas, "a maioria
das pesquisas em Ciências Humanas usa o homem como informante
dos dados a serem analisados, tanto as de procedimento quantitativo,
quanto qualitativo. Todos eles afetam o sujeito, não apenas
os experimentos, mas as entrevistas e os questionários
construídos dentro do maior rigor científico, pois
o levam a refletir, recordar, criar expectativas, estabelecer
relações".
O
processo educacional começa com o pesquisador, o qual deve
saber tratar o sujeito com a dignidade merecida, porém,
existem determinadas situações que a revelação
do objeto da pesquisa induz a respostas, então, a omissão
é cabível.
Dilema:
É ético omitir?
Por
esse motivo é que os comitês de ética devem
cumprir o seu papel, ou seja, resolver e discutir todos os casos
necessários para o prosseguimento das pesquisas , o rigor
científico não é a neutralidade, é
intrínseca a relação entre a honestidade
e a clareza das palavras proferidas e escritas pelo pesquisador.
Com relação aos menores
de idade deve-se estudar o Estatuto da Criança e do Adolescente
e questionar se há outro fator a ser estudado, o ECA traz
a legitimação.
Um
outro exemplo, no caso de um estudo sobre AIDS em adolescentes,
qual procedimento adotado para dar o resultado dos exames? Esses
riscos são decorrentes dos trabalhos efetuados em pesquisas
em saúde coletiva, são problemas a serem enfrentados
pelo pesquisador e pelos comitês de ética..
A
tarefa é uma só: repensar o ato ético a cada
instante, refletir e defender a dignidade humana, como disse a
mestre em Bioética, Elma Lourdes Zoboli, numa das aulas
sobre Saúde Coletiva no Instituto de Saúde, em São
Paulo.
Zoboli
cita no livro Bioética e Saúde Pública
a característica principal da saúde pública:
"Seu objeto é o processo saúde-doença
da coletividade, observado em suas dimensões biológica,
psíquica e sociocultural".
A
ética da pesquisa é dirigida à saúde
da coletividade, é interdisciplicinar e multiprofissional,
busca sempre a solução dos problemas reais de uma
população ou de um grupo, exemplos assim são
encontrados nas campanhas contra a dengue, menciona Zoboli. A
contribuição do conhecimento e da arte das pessoas
ligadas à sociologia e à ciência da comunicação:
jornalistas e publicitários são necessários
para a conscientização da sociedade dos problemas
comuns a todos.
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Yara Coelho
Jornalista, especialista em Divulgação Científica
em Comunicação em Saúde.
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