Volume 2
Número 3

20 de dezembro de 2005
 
 * Edição atual    
Documento sem título

          A divulgação da saúde e da Medicina Preventiva na radiodifusão sonora paranaense

Zeneida Alves de Assumpção*

          Resumo

          O rádio é uma das mídias de grande relevância para os povos dos países periféricos, inclusive o Brasil, por estar à disposição e ao alcance de todas as camadas sociais, de todos os cidadãos escolarizados ou não, de todos os profissionais e de todas as idades. Por suas características técnicas próprias e ímpares é mídia versátil, atraente, sobretudo onipresente. Procuramos neste trabalho mapear e compreender como a saúde e a medicina preventiva são divulgadas, ganham visibilidades e expressões nos espaços midiáticos, especificamente, no rádio pontagrossense - com o programa A Hora do Doutor. Vale mencionar que este trabalho faz parte do projeto de pesquisa "A saúde e a medicina preventiva nas ondas do rádio paranaense". Respaldamo-nos na análise de conteúdo, de Albert Kleinz para analisar A Hora do Doutor. Além da análise de conteúdo nos valemos, também, da pesquisa de qualitativa, entrevistas semi-estruturadas com o produtor e apresentador do programa A Hora do Doutor.

          Palavras-chave: rádio, medicina, saúde, divulgação.

           Introdução

          É fato inquestionável que mesmo com a mundialização da cultura, o rádio continua sendo um veículo de comunicação social de grande relevância para os povos dos países denominados periféricos, inclusive o Brasil, por estar à disposição e ao alcance de todas as camadas sociais, de todos os cidadãos escolarizados ou não, de todos os profissionais e de todas as idades. Por suas características técnicas próprias e ímpares, o rádio é mídia versátil, atraente, sobretudo onipresente.

          O presente texto procura mapear e compreender como a saúde e a medicina preventiva são divulgadas, ganham visibilidade e expressão nos espaços midiáticos, especificamente, na radiodifusão sonora pontagrossense.

          Nesta perspectiva, o texto se propõe analisar o programa A Hora do Doutor, que difunde diariamente temas (indicados pelos radiouvintes) relacionados à saúde e medicina preventiva para a cidade de Ponta Grossa e 24 municípios do interior do Paraná. Este estudo se pauta na análise de conteúdo do programa com base no teórico Albert Kientz e pesquisa de campo, abordagem qualitativa, com entrevistas semi-estruturadas com o produtor do programa, médico e clínico-geral Ricardo Mussi.

          Vale destacar que o presente trabalho integra um projeto de pesquisa que objetiva mapear e compreender a divulgação científica (saúde e medicina preventiva) no rádio paranaense, com o título "A saúde e medicina preventiva nas ondas do rádio paranaense". O projeto se respalda nas pesquisas científicas sobre saúde coletiva e medicina, desenvolvida na pós-graduação das universidades estaduais das cidades de Londrina, Maringá e Ponta Grossa e se essas produções são divulgadas pelas emissoras radiofônicas dessas cidades.

          Divulgação da saúde no rádio: um ato de prevenção

           O rádio solicita do radiouvinte apenas o sentido da audição. O radiouvinte não pode recorrer à mensagem ou à informação, caso não a tenha entendida ou decodificado-a, como acontece com outras mídias. Por isso, o rádio utiliza a redundância das mensagens ou das informações. A redundância torna, então, a mensagem e a informação mais inteligível e mais compreensível para o radiouvinte. Redundância na concepção de Moles é o excesso relativo do número de signos em relação aos que teriam sido estreitamente necessários para comunicar a mesma quantidade de originalidade. A inteligibilidade de uma mensagem está vinculada à sua redundância (apud KIENT, 1973, p. 93).

          Deste modo se observa que a linguagem radiofônica é relevante neste processo de audição. Ela reitera a informação, conduz e atrai a atenção do radiouvinte porque é delimitada por um sistema modelizante constituído pelas ondas sonoras e pela plástica: músicas, efeitos sonoros, vozes, palavras, ruídos, silêncio.

          Neste sentido, SUSMANN destaca:

          A imagem das palavras, os sons e os silêncios, como forma de produzir um 'código' para uma comunicação compreensível e coerente, o rádio nos apresenta uma série de utilizações particulares desse código, em forma de programação variada, que constitui o aspecto 'mensagem' dentro do meio (1995, p. 24).

          A mídia radiofônica possui códigos próprios destinados à codificação da comunicação entre o emissor e o receptor. Esses códigos são ordenados e ocorrem durante o processo de comunicação, marcando distintos estados, diferentes significados e uma série de conceitos diferenciados servindo de código para a informação semântica. Dessa maneira é possível classificar os códigos em palavras, músicas, efeitos sonoros e silêncio. Neste aspecto, SUSMANN nos orienta:

          Palavras (conjunto de elementos da linguagem verbal, que as pessoas utilizam para se comunicarem entre si); música (forma sonora que coordena as relações entre diferentes temas, sujeitos à intensidade, ao timbre, à duração); efeitos sonoros (grupo de ruídos naturais ou criados que colaboram para a compreensão de uma mensagem, dentro de uma comunicação radiofônica); silêncio (espaço de duração mais ou menos extenso, que ajuda a estabelecer o valor preciso de conceitos anteriores) (1995, p. 57).

          Para ENI ORLANDI:

          O silêncio é a respiração, o fôlego da significação. Lugar de recuo necessário para que se possa significar, para que o sentido faça sentido. Recuo possível, do múltiplo, o silêncio abre espaço para o que não é 'um', para o que permite o movimento do sujeito (1997, p. 13).

          O rádio, por ser uma mídia sonora, não trabalha a imagem. A voz do apresentador (locutor ou disk-jockey) dá vida e colorido à programação, em substituição à imagem, mediante a entonação, o ritmo, a rapidez e a intensidade com que pronuncia as palavras ao microfone. A voz, as palavras, os sons e o silêncio constituem a linguagem do rádio. Desta forma, o apresentador utiliza-se de sua voz modelizada pelo aparato tecnológico para dirigir-se ao ouvinte-receptor com o objetivo de atrair a sua atenção, a sua audiência.

          Cabe aqui a opinião de MCLEISH:

          O rádio forma imagens por tratar-se de um meio cego, mas que pode estimular a imaginação de modo que logo ao ouvir a voz do locutor o ouvinte tente visualizar o que ouve, criando na mente a figura do dono da voz. Ao contrário da televisão, em que as imagens são limitadas pelo tamanho da tela, as imagens do rádio são do tamanho que você quiser (2001, p. 15).

          Dessa forma, o rádio permite e oportuniza ao radiouvinte que construa no seu imaginário tudo o que ouve na programação. Autoriza-o sentir a emoção da voz e palavras do apresentador (que combinada com a respiração, entonação, dicção e técnica de estúdio) pode conduzi-lo ao mundo dos sonhos, das quimeras, tornando-o um coadjuvante da audiência e programação. O radiouvinte é guiado pela voz, pelas palavras do apresentador (ou disk-jockey) e plástica para participar voluntariamente da mensagem que está ouvindo.

          A técnica radiofônica extraiu a voz do mundo dos cinco sentidos e a fez penetrar num espaço preferencial acústico estruturado temporalmente. A voz, enquanto fala emite palavras e articula-se com ruídos e sons (KLIPPERT apud NUNES, 1993, p. 41).

          O rádio, por ser dinâmico e rápido exige de quem escreve objetividade, economia de palavras e encadeamento claro e simples das idéias para que o radiouvinte possa compreender facilmente a informação no momento exato em que escuta. Se ele parar e pensar, já terá perdido outras notícias, afirma PARADA (2000).

          Nesta perspectiva, as informações sobre saúde e medicina preventiva para serem comunicadas pelo rádio devem ser elaboradas conforme as técnicas, estilos e obedecer aos critérios de objetividade, clareza, simplicidade, nitidez e concisão. Deve-se evitar a utilização de termos técnicos e especializados. A linguagem deve priorizar a coloquial e familiar do radiouvinte, visto que, segundo CHANTLER (1998, p. 50), não há lugar no rádio para a complexidade, divagação ou obscuridade. Ou seja: o poder de influenciar, transformar, sensibilizar, convencer e esclarecer provém da simplicidade e não da complexidade das palavras (CÉSAR, 1996, p. 45).

           MACLEISH afirma:

          O impacto e a inteligibilidade devem ocorrer no momento em que é ouvida. Raramente há uma segunda chance. O produtor deve, portanto, esforçar-se pelo máximo de lógica e ordem na apresentação de suas idéias e pelo uso de uma linguagem de fácil entendimento (2002, p. 18).

           As informações sobre saúde e medicina preventiva (enfoque deste nosso trabalho) devem priorizar e objetivar, permanentemente, o máximo de simplicidade, concisão, coesão e clareza. A divulgação da saúde e medicina preventiva pelo rádio deve abolir termos técnicos, especialização e tudo o que possa confundir a compreensão das mensagens.. Deve-se utilizar, portanto:

          (...) palavras curtas quando puder, escrever explicitamente, dar exemplos de aplicações práticas e analogias. Usar palavras 'pessoais' quando puder (...). A chave para a redação eficiente de rádio é lembrar-se de que está transferindo informação através do ouvido e não através do olho. O ouvido aceita a informação em ritmo mais lento e requer o condicionamento da mente a receber através do ouvido (...) (BURKETT, 1990, p. 123-127).

           Um programa sobre saúde medicina preventiva deve ter a função precípua de informar, esclarecer e atender os interesses, anseios e curiosidades do público da emissora. Daí, a importância de conhecer, traduzir e interpretar os temas.

           Como um observador, o especialista do noticiário científico traduz e interpreta o que ele vê e ouve sobre ciência, de maneira que seus artigos possam ser compreendidos pelo homem comum, isto é, o público em geral. Isso quer dizer que ele lida com vocabulários especializados, que poderiam ser denominados dialetos do idioma da ciência, assim como lidam com abstrações que geralmente não têm correspondentes na linguagem comum (...) (KRIEGHABAUM, 1979, p. 108-109).

          Neste caso, a mídia radiofônica poderá elevar o grau educativo e cultural da população. Neste aspecto, o médico e jornalista JOSÉ REIS, uma das pilastras do jornalismo científico no nosso país enfatizava:

          A divulgação científica tem papel especial, em países pobres e subdesenvolvidos, com tanta gente sem escola ou precocemente fora dela, porém ávida de saber, ou de ascender por esse meio, pode exercer, pela divulgação científica ou por outras formas de disseminação do conhecimento um magistério de insuspeitadas possibilidades (REIS apud BUENIO, 1985, p. 30).

          Nesta mesma perspectiva, FERNANDO ACUÑA concorda com JOSÉ REIS, ao admitir que a divulgação científica pode promover a educação popular haja vista que ela

          não se esgota com a informação ao público, mas continua com a importante atividade de contribuir com seu pensamento [da educação] para a formação da opinião pública (...). A função do jornalista em geral contém sempre um componente educativo importante ao mostrar feitos e opiniões através da imprensa que podem servir de fundamento para idéias e condutas positivas ou negativas da coletividade. Esta responsabilidade se agiganta quando o jornalista oferece ao público a informação, a crítica ou o simples comentário acerca do que ocorre no campo da ciência, da técnica ou da arte em geral. Neste caso surge mais claramente a imagem do jornalista científico como educador (apud BUENO, 1985 P. 30-31).

          As informações e mensagens sobre medicina podem e devem ser divulgadas pelo rádio. A linguagem além de coloquial e sem hermetismos deve ser reconstruída com clareza. Assim, a ciência poderá ser compreendida e despertar o interesse do público leigo.

           Neste sentido, LEIBRUDER enfatiza:

          (...) a divulgação científica opera uma espécie de tradução intralingual, na medida em que busca a equivalência entre o jargão científico e o jornalismo. Em linhas gerais, o texto da divulgação científica, contrapondo-se ao hermetismo próprio do discurso científico, busca propiciar ao leitor leigo o contato com o universo da ciência através de uma linguagem que lhe seja familiar (...) (2001, p. 229).

          Procedimentos metológicos

          A técnica de pesquisa usada é a análise de conteúdo respaldado nos conhecimentos teóricos de Alberto Kientz que consiste identificar e classificar determinadas mensagens (conteúdos) do programa HORA DO DOUTOR sobre temas de saúde e medicina preventiva. Realizamos, também, pesquisa de campo (abordagem qualitativa) com entrevistas semi-estruturadas (gravadas em fitas de áudio) com o produtor e apresentador do programa (médico e clínico-geral) RICARDO MUSSI.

          Análise metodológica da produção radiofônica

          A HORA DO DOUTOR é veiculada "ao vivo" pela Rádio Sant'Ana (cidade de Ponta Grossa há 110 quilômetros da capital paranaense), de segunda a sexta feira, das 11h30 às 12 horas. O programa foi ao ar, pela primeira vez, em março de 2003. Mais de 400 edições já foram produzidas e veiculadas.

          A Rádio Sant'Ana, emissora AM é voltada para os católicos. Concedida pelo governo federal à Mitra da Diocese de Ponta Grossa, em 9 de agosto de 1961 com 110 watts de potência. Em 2000 recebeu licença definitiva da ANATEL para operar com potência de 5000 watts, o que lhe possibilitou aumento considerável de público por adentrar além do município de Ponta Grossa (onde está situada) e outros municípios adjacentes: Araucária, Carambeí, Campo Largo, Castro, Guamiranga, Guaragi, Harmonia, Imbituva, Ivaí, Irati, Mallet, Lapa, Palmeira, Pirái do Sul, Prudentópolis, Rebouças, Reserva, Rio Azul, Rio Negro, São José dos Pinhais, Teixeira Soares, Telêmaco Borba e Tibagi. Além da Rádio Sant'Ana, a cidade de Ponta Grossa possui cinco emissoras AM (Clube, Difusora, Central, Sant'Ana, CBN) e três FM (Tropical, Vila Velha, Mundial).

           O programa tem como objetivo divulgar temas sobre saúde e medicina preventiva. Os temas são indicados pelos radiouvintes por meio de cartas, telefonemas e e-mails. O produtor do programa (médico e clínico-geral) Ricardo Mussi também pauta assuntos conforme o interesse de seu público. Os temas são os mais diversos, desde tuberculose até amamentação.

          A HORA DO DOUTOR estrutura-se em dois gêneros radiofônicos: jornalístico e educativo-cultural.

          O gênero jornalístico é ancorado no formato da divulgação técno-científica (BARBOSA FILHO, 1996) com temas direcionados à saúde e medicina preventiva. (Ao comentar sobre a produção do programa A Hora do Doutor, RICARDO MUSSI, comenta:

          No Brasil se faz pouca medicina preventiva para esclarecer a comunidade sobre doenças, sintomas e prevenção delas. Com a prevenção as pessoas passam a ter maior cuidado em relação a determinadas doenças. A prevenção é sempre mais barata do que o tratamento. Com a prevenção, as pessoas têm maior noção sobre saúde (entrevista, em 28/07/2005)

          Ao falar sobre a produção A HORA DO DOUTOR, MUSSI explica: a audiência é constatada através do recebimento de cartinhas, telefonemas e -mails de radiouvintes de Irati, Teixeira Soares, Palmeira e outros municípios que a Rádio Sant'Ana atinge. Os radiouvintes indicam temas sobre diversas doenças.

          Segundo o médico, a HORA DO DOUTOR trata dos temas de forma ética.

          Não falamos em tratamento ou indicação de medicamentos. Falamos da doença. O que é a doença. Como preveni-la e qual o profissional especializado para resolver o problema. Por exemplo: se a pessoa nos escreve ou telefona que tem um problema urológico, a orientamos que procure um especialista. Ou seja: um urologista, profissional mais indicado e capacitado para resolver este problema.

          Quanto aos temas mencionados no programa, MUSSI relata: as perguntas e temas mais comuns dos ouvintes são o trivial da medicina: lombardias (dores nas costas), problemas sobre menopausa, amamentação do lactante (tipo de leite, quando parar de amamentar), tipos de chás.

          O gênero educativo-cultural se faz presente, quando os temas são explicados e esclarecidos ao público. Eles podem educar e promover a cultura.

          Das 470 edições veiculadas pela Rádio Sant"Ana AM, de Ponta Grossa foram analisados 47 programas. Escolhemos dois temas (contidos em dois programas distintos) para este trabalho: Nevralgia do trigêmeo e dermatite das fraldas, que os reproduzimos.

          Nevralgia do trigêmeo foi ao ar, no dia 28 de julho de 2005. O tema apesar de complexo foi explicado pelo apresentador em linguagem simples, coloquial e familiar. O apresentador traduziu, decodificou e interpretou o tema com certa maestria, tornando-o legível ao seu público-ouvinte, quando diz:

          A pedido de alguns ouvintes vamos falar hoje sobre a nevralgia do trigêmeo. O que é trigêmeo? Alguém sabe o que é trigêmeo? Trigêmeo é um nervo importante que sai lá do tronco cerebral. O tronco cerebral é a transição entre o cérebro e a medula espinhal. De lá que vem a origem do trigêmeo. Quando ocorre a nevralgia. O que é nevralgia? Nevralgia é a dor dos nervos. A nevralgia é bastante desagradável para quem sofre desse mal. Vamos agora tecer algumas considerações a respeito dessa nevralgia. Nós vamos agora falar sobre algumas características que diferencia a nevralgia do trigêmeo de outras dores faciais. Então, a nevralgia do trigêmeo é uma nevralgia facial. Nevralgia pode-se dizer que é a dor do nervo. É, então, uma dor facial. É uma nevralgia facial unilateral. Unilateral quer dizer: de um lado só. Ela é dolorosa e ocorre mais comumente na sexta e sétima década da vida. Ou seja: entre aos 60 e 70 anos de idade. Como a pessoa sente esta dor? A dor é caracterizada por dor tipo choque elétrico. Como se a pessoa tivesse levado um choque elétrico na face, no rosto. A dor é intensa e rápida. A pessoa sente como se fosse uma facada ou agulhada (a explicação da nevralgia do trigêmeo é essa que acabo de explicar). Mas, se a dor se espalha por outras áreas do organismo, deve-se, então colocar em dúvida o diagnóstico de nevralgia do trigêmeo, porque foge do quadro clínico clássico. Na nevralgia do trigêmeo sempre há um pontinho que a pessoa sabe que se tocar, mexer vai causar a dor. Esse local se encontra ao redor das narinas e boca. Então, a pessoa sabe que se mexer naquele local vai ter dor igual ao choque elétrico ou uma facada. Essa é a característica clássica da nevralgia do trigêmeo. Normalmente, manobras traumáticas, tais como: mastigar, escovar os dentes, falar ou mesmo quando recebe um pouco de ar (um vento frio que recebe na face) pode desencadear a crise. É algo relativamente incômodo, principalmente quando a pessoa vai mastigar alimentos e a dor vem forte e tem que parar imediatamente de mastigar. Os pacientes ficam, geralmente, sem dor entre episódios. A pessoa tem a crise. A crise desaparece. Entre uma crise e outra, a pessoa não sente dor. Isso é importante. Veja bem, eu falei que vou diferenciar entre a dor da nevralgia do trigêmeo e outras possibilidades. Porque se a dor é contínua e se persistir as pontadas, precisa-se ficar em alerta sobre a existência de outra causa. Não é só a nevralgia do trigêmeo que pode causar a dor facial. Mas, existem outras características, como por exemplo, quando a dor aparece em pessoa jovem (lembre-se que eu falei que a nevralgia do trigêmeo aparece em pessoas entre 60 a 70 anos). Neste caso, o médico precisa fazer busca mais apurada, incluindo exames de ordem cerebral, ressonância magnética para pesquisar a existência das causas. Verificar se há existência de carcinoma-naso-faringe. Carcinoma e neoplasia são sinônimos do câncer. Pode ser um câncer que esteja provocando a dor. Por isso é importante a investigação médica.

           Dermatite (das fraldas, amoniacal e dos cueiros) foi ao ar, no dia 26/08/05. Esse tema também foi tratado pelo apresentador de forma clara, nítida e compreensiva.

          A dermatite das fraldas acontece nos bebês (terceiro e quarto meses de vida), embora possa persistir durante todo o tempo em eu as fraldas forem usadas. Ambos os sexos são atingidos. A incidência dessa doença é maior nos climas quentes e unidos e, principalmente, quando a criança usa calcinha plástica ou de borracha. A criança deve usar ao máximo a fralda descartável. Sabemos que a fralda descartável é cara. Mas é a melhor solução. Os lactantes portadores de dermatite seborréia também revelam alta suscetibilidade para a dermatite das fraldas. Os nenéns que já têm predisposição ou algum tipo dessas dermatites, também têm predisposição para as dermatites das fraldas. Sintoma: erupção. O que é erupção? É o que sai da pele e tem início por um perístoma marginado. O que é um perístoma? É o vermelho e marginada é a borda, sobre as áreas do corpo em contato com as fraldas que são as nádegas (bumbum), genitália (órgãos sexuais), região do púbis (acima da genitália) - (parte inferior do abdômen), superior das coxas podem ser acometidas. Podem aparecer, também, papudas, vesículas e pústulas. O que são papudas? São pequenas elevações. Vesículas - já é uma grande elevação. A vesícula é maior que as papudas. Pústulas (quando tem pus dentro da vesícula). Nas crianças de sexo masculino, as lesões das papudas erosivas (erosivas quando provoca descamação embaixo do nível da pele). No sexo masculino, as lesões (papudas erosivas são cobertas por crostas). Elas podem ser encontradas em torno do meato mestral (ponta do pênis). Uma variante comum é a dermatite seborréia do lactante. Ela causa desconforto ao lactante. Ele chora quando as fraldas são trocadas. Causas: associação de fatores: irritação. Ela é causada pelas fraldas úmidas, calcinhas plástica e de borracha que impedem a evaporação e também por resíduos de sabão ou detergente nas fraldas. A pele do bebê fica também irritada e assada com a ação fecal - a falta de higiene. Sempre que a criança estiver molhada e não estiver com fraldas descartáveis, a criança deve ser trocada imediatamente. A umidade vai macerar a pele da criança e favorecer a dermatite amoniacal.

          Através da explicação destes temas pelo rádio percebe-se que o apresentador (por ser médico e clínico-geral), além do domínio da ciência, também o tem da linguagem do rádio. Ele procura explicar, decodificar e traduzir os termos técnicos e especializados da medicina preventiva na linguagem mais próxima do radiouvinte - as linguagens informais, coloquiais e populares. A divulgação científica pressupõe um processo de recodificação, isto é, a transposição de uma linguagem especializada, com o objetivo de tornar o conteúdo acessível a uma vasta audiência (BUENO, 1985, p. 19).

          Cabe aqui, uma outra análise: a redundância. Ela aparece constantemente na fala do apresentador, promovendo maior compreensão, clareza e nitidez do conteúdo da informação irradiada. Ela é inerente à mídia radiofônica porque essa mídia utiliza-se somente da audição.

          O uso da redundância configura-se como a retomada da informação principal de uma notícia por meio da reiteração de uma palavra, uma sigla, um nome, etc. Trata-se, pois, do uso de sinonímia, de uma variação léxica. A reiteração do lide é indicada quando a notícia é longa, para que o ouvinte possa recuperar, de maneira resumida, os dados principais da informação (CABELLO, 1994, p. 149).

          A HORA DO DOUTOR ao primar pela divulgação científica pode contribuir com a promoção da educação, cultura e cidadania.

          Neste aspecto, HERNANDO nos ensina que:

          l a divulgación de la ciência em los médios informativos es uma practica democrática, porque ofrece a lãs mayorías el conicimiento de lãs minorias, em el ejercício de la más exigente y compleja democracia; la democracia de la cultura (2001, P. 8).

          Vale ressaltar que A HORA DO DOUTOR ao apresentar temas voltados à saúde e medicina preventiva pautados pelos radiouvintes promove a interatividade mediante cartas, e-mails e telefonemas.

          Neste sentido, KRIEGHBAUM ressalta:

          (...) Um programa sobre medicina bem sucedido tem que agradar dois tipos de audiência: os leigos que o assistem ou ouvem e os médicos que raramente o fazem, mas que estão cientes dele através de seus pacientes. É fácil agradar a audiência leiga. Ela prefere os programas que versam sobre os problemas comuns de saúde e doenças: dor lombar, cansaço, artrite, excesso de peso, indigestão, problemas cardíacos, câncer. Ela quer saber sobre os novos progressos no campo clinico (por exemplo: como avaliar os aspectos relativos a vida em contraposição aos vírus mortos das vacinas contra a poliomielite (...) (1970, p 132).

          A exemplo do tema Nevralgia do trigêmeo (analisado neste trabalho), A HORA DO DUOTOR veiculou outros indicados pelos radiouvintes, tais como: Renite Alérgica e Renite Viral; Dermatite das Fraldas, Dermatite amoniacal, Dermatite dos Cueiros; Cisticercos Cerebral; Câncer Pulmonar; Tuberculose; Amamentação; Artrite e outros que despertam a curiosidade do radiouvinte.

          Considerações finais

          A HORA DO DOUTOR há dois anos no ar pela Rádio Sant'Ana (AM), emissora católica, localizada na cidade de Ponta Grossa, tem como objetivo alertar e conscientizar os radiouvintes de Ponta Grossa e municípios do interior do Paraná sobre a prevenção e educação a respeito da saúde e medicina preventiva.

          O apresentador decodifica, interpreta e traduz os termos técnicos e especializados (saúde e medicina preventiva) em linguagem coloquial, informal, popular e familiar. Possibilitando, assim, o acesso dos conhecimentos científicos aos radiouvintes que participam do programa indicando temas ou solicitando orientações sobre determinadas doenças, vacinas. A participação deles acontece através de cartinhas, telefonemas e e-mail.

          A divulgação técnco-científica, formato radiofônico, que dá sustentação A HORA DO DOUTOR, permite a promoção da educação, cultura e cidadania ao radiouvinte da Rádio Sant'Ana AM. Daí a relevância desse programa comunicar temas sobre a saúde e medicina preventiva escolhidos pelos próprios radiouvintes.

          Referências bibliográficas

BARBOSA FILHO, A. Gêneros radiofônicos: titpificação dos formatos em áudio. São Paulo, 1996. Dissertação de Mestrado. Universidade Metodista de São Paulo.

BUENO, Wilson C. Jornalismo científico no Brasil: os compromissos de uma prática dependente. São Paulo. 1985. Tese de doutorado. ECA/USP.

BURKETT, Warren. Jornalismo científico: como escrever sobre ciência, medicina e alta tecnologia para os meios de comunicação. Trad. Antonio Trânsito. Rio de Janeiro. Forense Universitária, 1990.

CABELLO, Ana Rosa G. "construção do texto radiofônico: o estilo oral-auditivo" in: Revista Alfa. São Paulo, 39, p. 145-152, 1996.

CÉSAR, Cyro. Como falar no rádio. São Paulo. Ibrasa, 1990.

CHANTLER, S. Harris. Radiojornalismo. Trad. E Consultoria Técnica Laurindo Leal filho. São Paulo. Summus, 1998.

HERNANDO, Manuel C. "Hay que pensar em el publico II. Informativo JR. Boletim n. 31, maio e Junho de 2001. in Periodismo cientifico, n. 35. Enero - Febrero, 2001.

KRIEGHBAU, Hiller. A ciência e os meios de comunicação de massa: um estudo sobre os informes científicos, tecnológicos e médicos feitos em jornais, revistas, rádio e na televisão dos estados Unidos. Trad. Maria C. Rodrigues. Rio de Janeiro. Correio da Manhã, 1970.

LEIBRUDER, Ana Paula. "O discurso de divulgação científica". In BRANDÃO, Helena (org). Gêneros do discurso na escola. São Paulo. Cortez, 2001.

MCLEISH, Robert. Produção de rádio: um guia abrangente de produção radiofônica. Trad. Mauro Silva. São Paulo. Summus. 2001.

NUNES, Mônica Rebeca Ferrari. O mito no rádio: a voz e os signos de renovação periódica. São Paulo. Annablume, 1993.

PARADA, Marcelo. Rádio: 24 horas de jornalismo. São Paulo. Panda, 2000.

SUSMANN, Scott. Así se crean programas de radio. Barcelona, 1994

 

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Zeneida Alves de Assumpção
Jornalista, tem doutorado em Comunicação Social e docente da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Paraná.

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