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A
divulgação da saúde e da Medicina Preventiva
na radiodifusão sonora paranaense
Zeneida Alves de Assumpção*
Resumo
O
rádio é uma das mídias de grande relevância
para os povos dos países periféricos, inclusive
o Brasil, por estar à disposição e ao alcance
de todas as camadas sociais, de todos os cidadãos escolarizados
ou não, de todos os profissionais e de todas as idades.
Por suas características técnicas próprias
e ímpares é mídia versátil, atraente,
sobretudo onipresente. Procuramos neste trabalho mapear e compreender
como a saúde e a medicina preventiva são divulgadas,
ganham visibilidades e expressões nos espaços midiáticos,
especificamente, no rádio pontagrossense - com o programa
A Hora do Doutor. Vale mencionar que este trabalho faz parte do
projeto de pesquisa "A saúde e a medicina preventiva
nas ondas do rádio paranaense". Respaldamo-nos na
análise de conteúdo, de Albert Kleinz para analisar
A Hora do Doutor. Além da análise de conteúdo
nos valemos, também, da pesquisa de qualitativa, entrevistas
semi-estruturadas com o produtor e apresentador do programa A
Hora do Doutor.
Palavras-chave:
rádio, medicina, saúde, divulgação.
Introdução
É
fato inquestionável que mesmo com a mundialização
da cultura, o rádio continua sendo um veículo de
comunicação social de grande relevância para
os povos dos países denominados periféricos, inclusive
o Brasil, por estar à disposição e ao alcance
de todas as camadas sociais, de todos os cidadãos escolarizados
ou não, de todos os profissionais e de todas as idades.
Por suas características técnicas próprias
e ímpares, o rádio é mídia versátil,
atraente, sobretudo onipresente.
O
presente texto procura mapear e compreender como a saúde
e a medicina preventiva são divulgadas, ganham visibilidade
e expressão nos espaços midiáticos, especificamente,
na radiodifusão sonora pontagrossense.
Nesta
perspectiva, o texto se propõe analisar o programa A Hora
do Doutor, que difunde diariamente temas (indicados pelos radiouvintes)
relacionados à saúde e medicina preventiva para
a cidade de Ponta Grossa e 24 municípios do interior do
Paraná. Este estudo se pauta na análise de conteúdo
do programa com base no teórico Albert Kientz e pesquisa
de campo, abordagem qualitativa, com entrevistas semi-estruturadas
com o produtor do programa, médico e clínico-geral
Ricardo Mussi.
Vale
destacar que o presente trabalho integra um projeto de pesquisa
que objetiva mapear e compreender a divulgação científica
(saúde e medicina preventiva) no rádio paranaense,
com o título "A saúde e medicina preventiva
nas ondas do rádio paranaense". O projeto se respalda
nas pesquisas científicas sobre saúde coletiva e
medicina, desenvolvida na pós-graduação das
universidades estaduais das cidades de Londrina, Maringá
e Ponta Grossa e se essas produções são divulgadas
pelas emissoras radiofônicas dessas cidades.
Divulgação
da saúde no rádio: um ato de prevenção
O rádio solicita do radiouvinte apenas o sentido da audição.
O radiouvinte não pode recorrer à mensagem ou à
informação, caso não a tenha entendida ou
decodificado-a, como acontece com outras mídias. Por isso,
o rádio utiliza a redundância das mensagens ou das
informações. A redundância torna, então,
a mensagem e a informação mais inteligível
e mais compreensível para o radiouvinte. Redundância
na concepção de Moles é o excesso relativo
do número de signos em relação aos que teriam
sido estreitamente necessários para comunicar a mesma quantidade
de originalidade. A inteligibilidade de uma mensagem está
vinculada à sua redundância (apud KIENT,
1973, p. 93).
Deste
modo se observa que a linguagem radiofônica é relevante
neste processo de audição. Ela reitera a informação,
conduz e atrai a atenção do radiouvinte porque é
delimitada por um sistema modelizante constituído pelas
ondas sonoras e pela plástica: músicas, efeitos
sonoros, vozes, palavras, ruídos, silêncio.
Neste
sentido, SUSMANN destaca:
A
imagem das palavras, os sons e os silêncios, como forma
de produzir um 'código' para uma comunicação
compreensível e coerente, o rádio nos apresenta
uma série de utilizações particulares desse
código, em forma de programação variada,
que constitui o aspecto 'mensagem' dentro do meio (1995, p. 24).
A
mídia radiofônica possui códigos próprios
destinados à codificação da comunicação
entre o emissor e o receptor. Esses códigos são
ordenados e ocorrem durante o processo de comunicação,
marcando distintos estados, diferentes significados e uma série
de conceitos diferenciados servindo de código para a informação
semântica. Dessa maneira é possível classificar
os códigos em palavras, músicas, efeitos sonoros
e silêncio. Neste aspecto, SUSMANN nos orienta:
Palavras
(conjunto de elementos da linguagem verbal, que as pessoas utilizam
para se comunicarem entre si); música (forma sonora que
coordena as relações entre diferentes temas, sujeitos
à intensidade, ao timbre, à duração);
efeitos sonoros (grupo de ruídos naturais ou criados que
colaboram para a compreensão de uma mensagem, dentro de
uma comunicação radiofônica); silêncio
(espaço de duração mais ou menos extenso,
que ajuda a estabelecer o valor preciso de conceitos anteriores)
(1995, p. 57).
Para
ENI ORLANDI:
O
silêncio é a respiração, o fôlego
da significação. Lugar de recuo necessário
para que se possa significar, para que o sentido faça sentido.
Recuo possível, do múltiplo, o silêncio abre
espaço para o que não é 'um', para o que
permite o movimento do sujeito (1997, p. 13).
O
rádio, por ser uma mídia sonora, não trabalha
a imagem. A voz do apresentador (locutor ou disk-jockey) dá
vida e colorido à programação, em substituição
à imagem, mediante a entonação, o ritmo,
a rapidez e a intensidade com que pronuncia as palavras ao microfone.
A voz, as palavras, os sons e o silêncio constituem a linguagem
do rádio. Desta forma, o apresentador utiliza-se de sua
voz modelizada pelo aparato tecnológico para dirigir-se
ao ouvinte-receptor com o objetivo de atrair a sua atenção,
a sua audiência.
Cabe
aqui a opinião de MCLEISH:
O
rádio forma imagens por tratar-se de um meio cego, mas
que pode estimular a imaginação de modo que logo
ao ouvir a voz do locutor o ouvinte tente visualizar o que ouve,
criando na mente a figura do dono da voz. Ao contrário
da televisão, em que as imagens são limitadas pelo
tamanho da tela, as imagens do rádio são do tamanho
que você quiser (2001, p. 15).
Dessa
forma, o rádio permite e oportuniza ao radiouvinte que
construa no seu imaginário tudo o que ouve na programação.
Autoriza-o sentir a emoção da voz e palavras do
apresentador (que combinada com a respiração, entonação,
dicção e técnica de estúdio) pode
conduzi-lo ao mundo dos sonhos, das quimeras, tornando-o um coadjuvante
da audiência e programação. O radiouvinte
é guiado pela voz, pelas palavras do apresentador (ou disk-jockey)
e plástica para participar voluntariamente da mensagem
que está ouvindo.
A
técnica radiofônica extraiu a voz do mundo dos cinco
sentidos e a fez penetrar num espaço preferencial acústico
estruturado temporalmente. A voz, enquanto fala emite palavras
e articula-se com ruídos e sons (KLIPPERT apud NUNES, 1993,
p. 41).
O
rádio, por ser dinâmico e rápido exige de
quem escreve objetividade, economia de palavras e encadeamento
claro e simples das idéias para que o radiouvinte possa
compreender facilmente a informação no momento exato
em que escuta. Se ele parar e pensar, já terá perdido
outras notícias, afirma PARADA (2000).
Nesta
perspectiva, as informações sobre saúde e
medicina preventiva para serem comunicadas pelo rádio devem
ser elaboradas conforme as técnicas, estilos e obedecer
aos critérios de objetividade, clareza, simplicidade, nitidez
e concisão. Deve-se evitar a utilização de
termos técnicos e especializados. A linguagem deve priorizar
a coloquial e familiar do radiouvinte, visto que, segundo CHANTLER
(1998, p. 50), não há lugar no rádio
para a complexidade, divagação ou obscuridade. Ou
seja: o poder de influenciar, transformar, sensibilizar, convencer
e esclarecer provém da simplicidade e não da complexidade
das palavras (CÉSAR, 1996, p. 45).
MACLEISH afirma:
O
impacto e a inteligibilidade devem ocorrer no momento em que é
ouvida. Raramente há uma segunda chance. O produtor deve,
portanto, esforçar-se pelo máximo de lógica
e ordem na apresentação de suas idéias e
pelo uso de uma linguagem de fácil entendimento (2002,
p. 18).
As informações sobre saúde e medicina preventiva
(enfoque deste nosso trabalho) devem priorizar e objetivar, permanentemente,
o máximo de simplicidade, concisão, coesão
e clareza. A divulgação da saúde e medicina
preventiva pelo rádio deve abolir termos técnicos,
especialização e tudo o que possa confundir a compreensão
das mensagens.. Deve-se utilizar, portanto:
(...)
palavras curtas quando puder, escrever explicitamente, dar exemplos
de aplicações práticas e analogias. Usar
palavras 'pessoais' quando puder (...). A chave para a redação
eficiente de rádio é lembrar-se de que está
transferindo informação através do ouvido
e não através do olho. O ouvido aceita a informação
em ritmo mais lento e requer o condicionamento da mente a receber
através do ouvido (...) (BURKETT, 1990, p. 123-127).
Um programa sobre saúde medicina preventiva deve ter a
função precípua de informar, esclarecer e
atender os interesses, anseios e curiosidades do público
da emissora. Daí, a importância de conhecer, traduzir
e interpretar os temas.
Como um observador, o especialista do noticiário científico
traduz e interpreta o que ele vê e ouve sobre ciência,
de maneira que seus artigos possam ser compreendidos pelo homem
comum, isto é, o público em geral. Isso quer dizer
que ele lida com vocabulários especializados, que poderiam
ser denominados dialetos do idioma da ciência, assim como
lidam com abstrações que geralmente não têm
correspondentes na linguagem comum (...) (KRIEGHABAUM, 1979, p.
108-109).
Neste
caso, a mídia radiofônica poderá elevar o
grau educativo e cultural da população. Neste aspecto,
o médico e jornalista JOSÉ REIS, uma das pilastras
do jornalismo científico no nosso país enfatizava:
A
divulgação científica tem papel especial,
em países pobres e subdesenvolvidos, com tanta gente sem
escola ou precocemente fora dela, porém ávida de
saber, ou de ascender por esse meio, pode exercer, pela divulgação
científica ou por outras formas de disseminação
do conhecimento um magistério de insuspeitadas possibilidades
(REIS apud BUENIO, 1985, p. 30).
Nesta
mesma perspectiva, FERNANDO ACUÑA concorda com JOSÉ
REIS, ao admitir que a divulgação científica
pode promover a educação popular haja vista que
ela
não
se esgota com a informação ao público, mas
continua com a importante atividade de contribuir com seu pensamento
[da educação] para a formação da opinião
pública (...). A função do jornalista em
geral contém sempre um componente educativo importante
ao mostrar feitos e opiniões através da imprensa
que podem servir de fundamento para idéias e condutas positivas
ou negativas da coletividade. Esta responsabilidade se agiganta
quando o jornalista oferece ao público a informação,
a crítica ou o simples comentário acerca do que
ocorre no campo da ciência, da técnica ou da arte
em geral. Neste caso surge mais claramente a imagem do jornalista
científico como educador (apud BUENO, 1985 P. 30-31).
As
informações e mensagens sobre medicina podem e devem
ser divulgadas pelo rádio. A linguagem além de coloquial
e sem hermetismos deve ser reconstruída com clareza. Assim,
a ciência poderá ser compreendida e despertar o interesse
do público leigo.
Neste sentido, LEIBRUDER enfatiza:
(...)
a divulgação científica opera uma espécie
de tradução intralingual, na medida em que busca
a equivalência entre o jargão científico e
o jornalismo. Em linhas gerais, o texto da divulgação
científica, contrapondo-se ao hermetismo próprio
do discurso científico, busca propiciar ao leitor leigo
o contato com o universo da ciência através de uma
linguagem que lhe seja familiar (...) (2001, p. 229).
Procedimentos
metológicos
A
técnica de pesquisa usada é a análise de
conteúdo respaldado nos conhecimentos teóricos de
Alberto Kientz que consiste identificar e classificar determinadas
mensagens (conteúdos) do programa HORA DO DOUTOR sobre
temas de saúde e medicina preventiva. Realizamos, também,
pesquisa de campo (abordagem qualitativa) com entrevistas semi-estruturadas
(gravadas em fitas de áudio) com o produtor e apresentador
do programa (médico e clínico-geral) RICARDO MUSSI.
Análise
metodológica da produção radiofônica
A
HORA DO DOUTOR é veiculada "ao vivo" pela Rádio
Sant'Ana (cidade de Ponta Grossa há 110 quilômetros
da capital paranaense), de segunda a sexta feira, das 11h30 às
12 horas. O programa foi ao ar, pela primeira vez, em março
de 2003. Mais de 400 edições já foram produzidas
e veiculadas.
A
Rádio Sant'Ana, emissora AM é voltada para os católicos.
Concedida pelo governo federal à Mitra da Diocese de Ponta
Grossa, em 9 de agosto de 1961 com 110 watts de potência.
Em 2000 recebeu licença definitiva da ANATEL para operar
com potência de 5000 watts, o que lhe possibilitou aumento
considerável de público por adentrar além
do município de Ponta Grossa (onde está situada)
e outros municípios adjacentes: Araucária, Carambeí,
Campo Largo, Castro, Guamiranga, Guaragi, Harmonia, Imbituva,
Ivaí, Irati, Mallet, Lapa, Palmeira, Pirái do Sul,
Prudentópolis, Rebouças, Reserva, Rio Azul, Rio
Negro, São José dos Pinhais, Teixeira Soares, Telêmaco
Borba e Tibagi. Além da Rádio Sant'Ana, a cidade
de Ponta Grossa possui cinco emissoras AM (Clube, Difusora, Central,
Sant'Ana, CBN) e três FM (Tropical, Vila Velha, Mundial).
O programa tem como objetivo divulgar temas sobre saúde
e medicina preventiva. Os temas são indicados pelos radiouvintes
por meio de cartas, telefonemas e e-mails. O produtor do programa
(médico e clínico-geral) Ricardo Mussi também
pauta assuntos conforme o interesse de seu público. Os
temas são os mais diversos, desde tuberculose até
amamentação.
A
HORA DO DOUTOR estrutura-se em dois gêneros radiofônicos:
jornalístico e educativo-cultural.
O
gênero jornalístico é ancorado no formato
da divulgação técno-científica (BARBOSA
FILHO, 1996) com temas direcionados à saúde e medicina
preventiva. (Ao comentar sobre a produção do programa
A Hora do Doutor, RICARDO MUSSI, comenta:
No
Brasil se faz pouca medicina preventiva para esclarecer a comunidade
sobre doenças, sintomas e prevenção delas.
Com a prevenção as pessoas passam a ter maior cuidado
em relação a determinadas doenças. A prevenção
é sempre mais barata do que o tratamento. Com a prevenção,
as pessoas têm maior noção sobre saúde
(entrevista, em 28/07/2005)
Ao
falar sobre a produção A HORA DO DOUTOR, MUSSI explica:
a audiência é constatada através do
recebimento de cartinhas, telefonemas e -mails de radiouvintes
de Irati, Teixeira Soares, Palmeira e outros municípios
que a Rádio Sant'Ana atinge. Os radiouvintes indicam temas
sobre diversas doenças.
Segundo
o médico, a HORA DO DOUTOR trata dos temas de forma ética.
Não
falamos em tratamento ou indicação de medicamentos.
Falamos da doença. O que é a doença. Como
preveni-la e qual o profissional especializado para resolver o
problema. Por exemplo: se a pessoa nos escreve ou telefona que
tem um problema urológico, a orientamos que procure um
especialista. Ou seja: um urologista, profissional mais indicado
e capacitado para resolver este problema.
Quanto
aos temas mencionados no programa, MUSSI relata: as perguntas
e temas mais comuns dos ouvintes são o trivial da medicina:
lombardias (dores nas costas), problemas sobre menopausa, amamentação
do lactante (tipo de leite, quando parar de amamentar), tipos
de chás.
O
gênero educativo-cultural se faz presente, quando os temas
são explicados e esclarecidos ao público. Eles podem
educar e promover a cultura.
Das
470 edições veiculadas pela Rádio Sant"Ana
AM, de Ponta Grossa foram analisados 47 programas. Escolhemos
dois temas (contidos em dois programas distintos) para este trabalho:
Nevralgia do trigêmeo e dermatite das fraldas, que os reproduzimos.
Nevralgia
do trigêmeo foi ao ar, no dia 28 de julho de 2005. O
tema apesar de complexo foi explicado pelo apresentador em linguagem
simples, coloquial e familiar. O apresentador traduziu, decodificou
e interpretou o tema com certa maestria, tornando-o legível
ao seu público-ouvinte, quando diz:
A
pedido de alguns ouvintes vamos falar hoje sobre a nevralgia do
trigêmeo. O que é trigêmeo? Alguém sabe
o que é trigêmeo? Trigêmeo é um nervo
importante que sai lá do tronco cerebral. O tronco cerebral
é a transição entre o cérebro e a
medula espinhal. De lá que vem a origem do trigêmeo.
Quando ocorre a nevralgia. O que é nevralgia? Nevralgia
é a dor dos nervos. A nevralgia é bastante desagradável
para quem sofre desse mal. Vamos agora tecer algumas considerações
a respeito dessa nevralgia. Nós vamos agora falar sobre
algumas características que diferencia a nevralgia do trigêmeo
de outras dores faciais. Então, a nevralgia do trigêmeo
é uma nevralgia facial. Nevralgia pode-se dizer que é
a dor do nervo. É, então, uma dor facial. É
uma nevralgia facial unilateral. Unilateral quer dizer: de um
lado só. Ela é dolorosa e ocorre mais comumente
na sexta e sétima década da vida. Ou seja: entre
aos 60 e 70 anos de idade. Como a pessoa sente esta dor? A dor
é caracterizada por dor tipo choque elétrico. Como
se a pessoa tivesse levado um choque elétrico na face,
no rosto. A dor é intensa e rápida. A pessoa sente
como se fosse uma facada ou agulhada (a explicação
da nevralgia do trigêmeo é essa que acabo de explicar).
Mas, se a dor se espalha por outras áreas do organismo,
deve-se, então colocar em dúvida o diagnóstico
de nevralgia do trigêmeo, porque foge do quadro clínico
clássico. Na nevralgia do trigêmeo sempre há
um pontinho que a pessoa sabe que se tocar, mexer vai causar a
dor. Esse local se encontra ao redor das narinas e boca. Então,
a pessoa sabe que se mexer naquele local vai ter dor igual ao
choque elétrico ou uma facada. Essa é a característica
clássica da nevralgia do trigêmeo. Normalmente, manobras
traumáticas, tais como: mastigar, escovar os dentes, falar
ou mesmo quando recebe um pouco de ar (um vento frio que recebe
na face) pode desencadear a crise. É algo relativamente
incômodo, principalmente quando a pessoa vai mastigar alimentos
e a dor vem forte e tem que parar imediatamente de mastigar. Os
pacientes ficam, geralmente, sem dor entre episódios. A
pessoa tem a crise. A crise desaparece. Entre uma crise e outra,
a pessoa não sente dor. Isso é importante. Veja
bem, eu falei que vou diferenciar entre a dor da nevralgia do
trigêmeo e outras possibilidades. Porque se a dor é
contínua e se persistir as pontadas, precisa-se ficar em
alerta sobre a existência de outra causa. Não é
só a nevralgia do trigêmeo que pode causar a dor
facial. Mas, existem outras características, como por exemplo,
quando a dor aparece em pessoa jovem (lembre-se que eu falei que
a nevralgia do trigêmeo aparece em pessoas entre 60 a 70
anos). Neste caso, o médico precisa fazer busca mais apurada,
incluindo exames de ordem cerebral, ressonância magnética
para pesquisar a existência das causas. Verificar se há
existência de carcinoma-naso-faringe. Carcinoma e neoplasia
são sinônimos do câncer. Pode ser um câncer
que esteja provocando a dor. Por isso é importante a investigação
médica.
Dermatite (das fraldas, amoniacal e dos cueiros) foi ao
ar, no dia 26/08/05. Esse tema também foi tratado pelo
apresentador de forma clara, nítida e compreensiva.
A
dermatite das fraldas acontece nos bebês (terceiro e quarto
meses de vida), embora possa persistir durante todo o tempo em
eu as fraldas forem usadas. Ambos os sexos são atingidos.
A incidência dessa doença é maior nos climas
quentes e unidos e, principalmente, quando a criança usa
calcinha plástica ou de borracha. A criança deve
usar ao máximo a fralda descartável. Sabemos que
a fralda descartável é cara. Mas é a melhor
solução. Os lactantes portadores de dermatite seborréia
também revelam alta suscetibilidade para a dermatite das
fraldas. Os nenéns que já têm predisposição
ou algum tipo dessas dermatites, também têm predisposição
para as dermatites das fraldas. Sintoma: erupção.
O que é erupção? É o que sai da pele
e tem início por um perístoma marginado. O que é
um perístoma? É o vermelho e marginada é
a borda, sobre as áreas do corpo em contato com as fraldas
que são as nádegas (bumbum), genitália (órgãos
sexuais), região do púbis (acima da genitália)
- (parte inferior do abdômen), superior das coxas podem
ser acometidas. Podem aparecer, também, papudas, vesículas
e pústulas. O que são papudas? São pequenas
elevações. Vesículas - já é
uma grande elevação. A vesícula é
maior que as papudas. Pústulas (quando tem pus dentro da
vesícula). Nas crianças de sexo masculino, as lesões
das papudas erosivas (erosivas quando provoca descamação
embaixo do nível da pele). No sexo masculino, as lesões
(papudas erosivas são cobertas por crostas). Elas podem
ser encontradas em torno do meato mestral (ponta do pênis).
Uma variante comum é a dermatite seborréia do lactante.
Ela causa desconforto ao lactante. Ele chora quando as fraldas
são trocadas. Causas: associação de fatores:
irritação. Ela é causada pelas fraldas úmidas,
calcinhas plástica e de borracha que impedem a evaporação
e também por resíduos de sabão ou detergente
nas fraldas. A pele do bebê fica também irritada
e assada com a ação fecal - a falta de higiene.
Sempre que a criança estiver molhada e não estiver
com fraldas descartáveis, a criança deve ser trocada
imediatamente. A umidade vai macerar a pele da criança
e favorecer a dermatite amoniacal.
Através
da explicação destes temas pelo rádio percebe-se
que o apresentador (por ser médico e clínico-geral),
além do domínio da ciência, também
o tem da linguagem do rádio. Ele procura explicar, decodificar
e traduzir os termos técnicos e especializados da medicina
preventiva na linguagem mais próxima do radiouvinte - as
linguagens informais, coloquiais e populares. A divulgação
científica pressupõe um processo de recodificação,
isto é, a transposição de uma linguagem especializada,
com o objetivo de tornar o conteúdo acessível a
uma vasta audiência (BUENO, 1985, p. 19).
Cabe
aqui, uma outra análise: a redundância. Ela aparece
constantemente na fala do apresentador, promovendo maior compreensão,
clareza e nitidez do conteúdo da informação
irradiada. Ela é inerente à mídia radiofônica
porque essa mídia utiliza-se somente da audição.
O
uso da redundância configura-se como a retomada da informação
principal de uma notícia por meio da reiteração
de uma palavra, uma sigla, um nome, etc. Trata-se, pois, do uso
de sinonímia, de uma variação léxica.
A reiteração do lide é indicada quando a
notícia é longa, para que o ouvinte possa recuperar,
de maneira resumida, os dados principais da informação
(CABELLO, 1994, p. 149).
A
HORA DO DOUTOR ao primar pela divulgação científica
pode contribuir com a promoção da educação,
cultura e cidadania.
Neste
aspecto, HERNANDO nos ensina que:
l
a divulgación de la ciência em los médios
informativos es uma practica democrática, porque ofrece
a lãs mayorías el conicimiento de lãs minorias,
em el ejercício de la más exigente y compleja democracia;
la democracia de la cultura (2001, P. 8).
Vale
ressaltar que A HORA DO DOUTOR ao apresentar temas voltados à
saúde e medicina preventiva pautados pelos radiouvintes
promove a interatividade mediante cartas, e-mails e telefonemas.
Neste
sentido, KRIEGHBAUM ressalta:
(...)
Um programa sobre medicina bem sucedido tem que agradar dois tipos
de audiência: os leigos que o assistem ou ouvem e os médicos
que raramente o fazem, mas que estão cientes dele através
de seus pacientes. É fácil agradar a audiência
leiga. Ela prefere os programas que versam sobre os problemas
comuns de saúde e doenças: dor lombar, cansaço,
artrite, excesso de peso, indigestão, problemas cardíacos,
câncer. Ela quer saber sobre os novos progressos no campo
clinico (por exemplo: como avaliar os aspectos relativos a vida
em contraposição aos vírus mortos das vacinas
contra a poliomielite (...) (1970, p 132).
A
exemplo do tema Nevralgia do trigêmeo (analisado
neste trabalho), A HORA DO DUOTOR veiculou outros indicados pelos
radiouvintes, tais como: Renite Alérgica e Renite
Viral; Dermatite das Fraldas, Dermatite amoniacal,
Dermatite dos Cueiros; Cisticercos Cerebral; Câncer
Pulmonar; Tuberculose; Amamentação;
Artrite e outros que despertam a curiosidade do radiouvinte.
Considerações
finais
A
HORA DO DOUTOR há dois anos no ar pela Rádio Sant'Ana
(AM), emissora católica, localizada na cidade de Ponta
Grossa, tem como objetivo alertar e conscientizar os radiouvintes
de Ponta Grossa e municípios do interior do Paraná
sobre a prevenção e educação a respeito
da saúde e medicina preventiva.
O
apresentador decodifica, interpreta e traduz os termos técnicos
e especializados (saúde e medicina preventiva) em linguagem
coloquial, informal, popular e familiar. Possibilitando, assim,
o acesso dos conhecimentos científicos aos radiouvintes
que participam do programa indicando temas ou solicitando orientações
sobre determinadas doenças, vacinas. A participação
deles acontece através de cartinhas, telefonemas e e-mail.
A
divulgação técnco-científica, formato
radiofônico, que dá sustentação A HORA
DO DOUTOR, permite a promoção da educação,
cultura e cidadania ao radiouvinte da Rádio Sant'Ana AM.
Daí a relevância desse programa comunicar temas sobre
a saúde e medicina preventiva escolhidos pelos próprios
radiouvintes.
Referências
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Zeneida Alves de Assumpção
Jornalista, tem doutorado em Comunicação Social
e docente da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Paraná.
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