Para
burlar a lei, merchandising de cigarro
Armando Ziller*
Em 27 de dezembro de 2006 completou
6 anos da proibição da propaganda de tabaco na mídia
brasileira. De acordo com o pesquisador Elisaldo Carlini, da Unifesp,
houve uma diminuição do consumo de cigarro entre
os jovens. No primeiro estudo que ele realizou no ano de 1987,
feito com estudantes de 27 capitais, o resultado da pesquisa apontou
que 22,4% haviam experimentado tabaco, número esse que
subiu para 32,7% dez anos depois, num aumento de 50%". Após
seis anos da implantação da lei de proibição
da propaganda de cigarros, nova pesquisa que revelou que este
consumo caiu para 21,7%, porcentagem menor do que a apontada há
quase 20 anos atrás. Armando Ziller é formado em
administração de empresas pela Faceca - Varginha/MG,
pós-graduando do curso de comunicação empresarial
- Universidade Federal Juiz de Fora. Trabalha com planejamento
e mídia - na Signa Comunicação - agência
de publicidade em Juiz de Fora e Belo Horizonte.
Esta redução pode
ser computada em grande parte ao demarketing (estratégia
utilizada para diminuir ou acabar com uma demanda). A ausência
da propaganda insinuante, ligada ao sucesso e ao status na conquista
de novos consumidores, neste caso consumidores jovens, permitiu
esta queda significativa.
As indústrias de tabaco,
como qualquer fabricante de produtos, precisam de novos consumidores
para aumentar suas vendas e em consequência seus lucros.
Com a proibição da propaganda e com a diminuição
de novos consumidores para o cigarro, a indústria está
perdendo terreno e para sobreviver precisa contra atacar.
A nova forma encontrada pela empresas
fabricantes de cigarros para divulgar seus produtos é o
merchandising em programas de TV com foco nos jovens.
Estas ações estão
bem claras , escancaradas mesmo, no programa Big Brother da TV
Globo. Se assistirmos aos programas com olhar crítico,
todas as oportunidades da apresentação de consumo
do produto são aproveitadas. Senão, vejamos:
Na casa existe uma moeda que é
utilizada para a compra de mantimentos e pequenas regalias. Esta
moeda é a estaleca. Cada participante recebe uma quantidade
desta moeda para gastar em suas compras diárias. As famosas
estalecas do programa, concorrem com outra moeda de troca bastante
valorizada entre os participantes, o cigarro.
Em toda prova de comida de que
os enclausurados participam, o cigarro é sempre tema de
discussão , incluído como elemento fundamental na
cesta de alimentos: corta-se o leite condensado e o chocolate
mas não o cigarro e, quando um participante levanta a questão
"inocentemente", recebe a reprimenda dos outros jovens.
Além do quadro da comida,
Os "Brothers" vivem várias situações
tensas na casa. Toda vez que um participante de destaque está
prestes a tomar uma decisão importante o seu companheiro
inseparável é o cigarro. As principais decisões
são sempre anunciadas com a presença do cigarro.
Nas situações de conciliação entre
adversários o cigarro é o símbolo que sela
a paz. Na troca de segredos entre os amigos o cigarro é
compartilhado. Nas festas onde a azaração corre
solta o cigarro é o instrumento de sedução
e conquista. Em momentos de reflexão e relaxamento o cigarro
é a companhia.
Escondido atrás das supostas
atitudes livres e independentes dos seus participantes, o cigarro
permeia todas as ações da casa. Não por acaso,
o programa é o preferido pelos jovens porque os participantes
sintetizam o sonho da maioria dos adolescentes de ser famosa ,
aparecendo em rede nacional para milhões de pessoas.
A Globo sabe disto, a indústria
tabagista também, então é só fazer
o negócio. A Globo aproveita a imprevisibilidade "previsível"
das ações de seus "brothers" ao vivo e
edita cirurgicamente as ações mais contundentes
tendo o cigarro como seu 17º Big Brother. Ela veicula para
seus consumidores estas ações juntamente com os
outros patrocinadores do programa e faz do Big Brohter Brasil
o programa de maior lucratividade da casa.
Ou será
que a Globo faz merchandising gratuitamente?
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Armando Ziller
Formado em administração de empresas pela Faceca
- Varginha/MG, pós-graduando do curso de comunicação
empresarial - Universidade Federal Juiz de Fora. Trabalha com
planejamento e mídia - na Signa Comunicação
- agência de publicidade em Juiz de Fora e Belo Horizonte.
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