Ano I - Nº 01 - Abril de 2007

:: A dengue está matando. Tem alguém ouvindo aí?

 

     A taxa de mortalidade de dengue em 2007 indica que estamos diante de uma crise sem precedentes na área da saúde pública, o que, na verdade, não nos deveria surpreender porque estamos assistindo a esse filme há décadas. Ao que parece, embora alguns governos Estaduais e o próprio Governo Federal aleguem estar preocupados com o problema (estão mesmo ou jogam apenas para a torcida?), pouco se tem feito efetivamente para atenuá-lo. Preocupação apenas, sem medidas concretas e urgentes, não adianta. O alerta já foi dado há anos, mas sai governo, entra governo, e a incompetência na área da saúde pública permanece. Enquanto os brasileiros morrem, a indústria da saúde lucra, os parlamentares brigam por maiores salários e nada se faz.

     A Organização Mundial da Saúde preconiza uma taxa de mortalidade de 3%, mas o Brasil trabalha com outro percentual, acima dos dois dígitos. Em 2006, a taxa de mortalidade foi de 11% (ou seja, 11% dos doentes com a forma mais grave da doença morreram) e, este ano, apenas até a segunda metade de março, a taxa já atingia 13,3% (75 casos de dengue hemorrágica e 10 mortes), um absurdo em todos os sentidos.

     O número de casos explode em todo o País e, por exemplo em Campo Grande, a média de doentes é de 1 para 18 habitantes. Só para se ter uma idéia: naquela epidemia que apavorou o Rio de Janeiro em 2002, a média era de 1 caso por 46 habitantes, quase 3 vezes menos.

     No Estado de São Paulo, o mais rico da Federação, a transmissão da dengue atingiu 245 cidades em 2006, número muito maior dos que as 192 cidades em 2001, quando foi registrada a maior incidência da doença no Estado, ou seja, estamos caminhando para trás e muito rapidamente.

     O Ministério da Saúde já computou (até 26 de março de 2007) cerca de 135 mil casos de dengue no País, mas devemos admitir que as estatísticas não são reais porque (e o próprio Governo reconhece isso) nem todas as ocorrências estão devidamente notificadas. Tudo é pior do que as autoridades admitem ou anunciam, sempre será assim.

     A epidemia ganha força por várias razões. Em primeiro lugar, não dispomos de um planejamento adequado para preveni-la e, apesar de ser uma doença anunciada, temos sido incompetentes para enfrentá-la. Em segundo lugar, a estrutura de saúde é deficiente e o atendimento é precário. Finalmente, as campanhas têm se mostrado ineficientes para mobilizar a população que, necessariamente, precisa também fazer a sua parte.

     O que não se pode admitir – e já estamos constatando esse fato na mídia – é que as autoridades joguem sobre as costas dos cidadãos o ônus pelo aumento do número de casos. Questões graves de saúde pública – e a dengue já se constitui em uma questão gravíssima há vários anos – têm que ser enfrentadas com planejamento, mobilização permanente, esclarecimento público, o que significa também competência em comunicação e educação para a saúde. Tudo isso tem faltado, infelizmente, e por isso a realidade é dramática.

     A sociedade civil precisa exigir ação imediata dos Governos, das autoridades, o que não tem acontecido. Os parlamentares precisam descer do palanque e exigir solução imediata. O controle da epidemia da dengue é, certamente, mais importante do que a CPI do apagão (que também deveria ser formada), mas nossos colegas de Brasília se movimentam em função de interesses políticos e pessoais e dão as costas para a sociedade (as exceções apenas confirmam a regra). Num país de sanguessugas (acabou em pizza a corrupção na saúde?), há mesmo muita demagogia e pouca vontade política.

     Vamos repetir de novo: a dengue está matando os brasileiros. Alguém está ouvindo por aí?

 
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