Volume 2
Número 2

20 de julho de 2005
 
 * Edição atual    

          Enfrentando o poderoso lobby do tabaco

          O escândalo da corrupção no Congresso nacional, envolvendo não apenas parlamentares, mas também líderes partidários e representantes do Governo, tem desviado o foco de questões relevantes, agora relegadas a segundo plano. Este é o caso da não ratificação até o momento, pelo Senado, da Convenção Quadros que visa reduzir, gradativamente, a cultura de tabaco em todo o mundo.

          O Brasil, que teve papel central na implementação desta Convenção e que se destaca por políticas oficiais contrárias à propaganda do cigarro na mídia de massa, depois desse esforço e desta contribuição, parece caminhar para trás.

          Evidentemente, é possível perceber uma cumplicidade entre autoridades governamentais , deputados e a poderosa indústria tabagista, que, preocupada em perder, a médio e longo prazos, os lucros decorrentes da venda das drogas que produz, se empenha para impedir a aprovação do "tratado" e, com isso, manter os seus privilégios.

          Não há dúvida de que existe um contingente formidável de brasileiros que vive em função da cultura do fumo e que ela gera , em termos de impostos, uma receita que seduz os governos, independentemente de sua coloração política ou ideológica.

          Mas é preciso examinar essa questão de maneira mais abrangente e seguir o exemplo de outros países que têm buscado desbaratar esse lobby por ações que afetam o seu lado mais sensível: o bolso. Temos praticado preços muito baixos para venda de cigarros e, em tempos bicudos, as empresas (particularmente a Souza Cruz e a Philip Morris) costumam enfrentar-se usando a redução de preços como estratégia de marketing. Desta forma, de maneira irresponsável, induzem o consumo, sobretudo dos segmentos mais pobres da população.

          Não temos, no Brasil, feito a contabilidade correta e não confrontamos o valor dos impostos recebidos com as despesas fantásticas que o consumo de cigarro gera para o sistema de saúde em nosso País. No fundo, as nossas restrições à propaganda de cigarros representam um mero paliativo.

          As nações ditas desenvolvidas, como os Estados Unidos, têm conseguido, por intermédio de processos conduzidos pelo Estado, indenizações vultosas da indústria tabagista, buscando resssarcir-se dos prejuízos que ela causa aos cofres públicos. Há acordos firmados que chegam a bilhões de dólares, enquanto , no Brasil, a Souza Cruz cinicamente continua alardeando as vitórias que consegue na Justiça contra fumantes (doentes ou mortos) em decorrência do consumo de cigarro (que ela estimulou por décadas).

          É necessário, portanto, que enfrentemos esse lobby poderoso com armas já conhecidas e que coloquemos a saúde dos cidadãos como prioridade. Basta de cumplicidade. Não podemos ser complacentes e omissos quando centenas de milhares de brasileiros morrem, anualmente, por causa dos produtos da indústria tabagista. É preciso dar um basta à ação nefasta dos produtores de drogas.

          Vamos colocar a saúde do brasileiro em primeiro lugar. Quem produz para matar (e faz propaganda disso) merece o nosso repúdio.

 

 
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