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Enfrentando
o poderoso lobby do tabaco
O
escândalo da corrupção no Congresso nacional,
envolvendo não apenas parlamentares, mas também
líderes partidários e representantes do Governo,
tem desviado o foco de questões relevantes, agora relegadas
a segundo plano. Este é o caso da não ratificação
até o momento, pelo Senado, da Convenção
Quadros que visa reduzir, gradativamente, a cultura de tabaco
em todo o mundo.
O
Brasil, que teve papel central na implementação
desta Convenção e que se destaca por políticas
oficiais contrárias à propaganda do cigarro na mídia
de massa, depois desse esforço e desta contribuição,
parece caminhar para trás.
Evidentemente,
é possível perceber uma cumplicidade entre autoridades
governamentais , deputados e a poderosa indústria tabagista,
que, preocupada em perder, a médio e longo prazos, os lucros
decorrentes da venda das drogas que produz, se empenha para impedir
a aprovação do "tratado" e, com isso,
manter os seus privilégios.
Não
há dúvida de que existe um contingente formidável
de brasileiros que vive em função da cultura do
fumo e que ela gera , em termos de impostos, uma receita que seduz
os governos, independentemente de sua coloração
política ou ideológica.
Mas
é preciso examinar essa questão de maneira mais
abrangente e seguir o exemplo de outros países que têm
buscado desbaratar esse lobby por ações que afetam
o seu lado mais sensível: o bolso. Temos praticado preços
muito baixos para venda de cigarros e, em tempos bicudos, as empresas
(particularmente a Souza Cruz e a Philip Morris) costumam enfrentar-se
usando a redução de preços como estratégia
de marketing. Desta forma, de maneira irresponsável, induzem
o consumo, sobretudo dos segmentos mais pobres da população.
Não
temos, no Brasil, feito a contabilidade correta e não confrontamos
o valor dos impostos recebidos com as despesas fantásticas
que o consumo de cigarro gera para o sistema de saúde em
nosso País. No fundo, as nossas restrições
à propaganda de cigarros representam um mero paliativo.
As
nações ditas desenvolvidas, como os Estados Unidos,
têm conseguido, por intermédio de processos conduzidos
pelo Estado, indenizações vultosas da indústria
tabagista, buscando resssarcir-se dos prejuízos que ela
causa aos cofres públicos. Há acordos firmados que
chegam a bilhões de dólares, enquanto , no Brasil,
a Souza Cruz cinicamente continua alardeando as vitórias
que consegue na Justiça contra fumantes (doentes ou mortos)
em decorrência do consumo de cigarro (que ela estimulou
por décadas).
É
necessário, portanto, que enfrentemos esse lobby poderoso
com armas já conhecidas e que coloquemos a saúde
dos cidadãos como prioridade. Basta de cumplicidade. Não
podemos ser complacentes e omissos quando centenas de milhares
de brasileiros morrem, anualmente, por causa dos produtos da indústria
tabagista. É preciso dar um basta à ação
nefasta dos produtores de drogas.
Vamos
colocar a saúde do brasileiro em primeiro lugar. Quem produz
para matar (e faz propaganda disso) merece o nosso repúdio.
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